Uma vigília em prol das 11 assassinadas pelos “companheiros” em agosto

Uma vigília em prol das 11 assassinadas pelos “companheiros” em agosto

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Ana D’Avila – 47 anos – Santa Cruz
Andreza – 21 anos – Macaíba
Antônia – 37 anos – Mossoró
Elidiane – 25 anos – São José de Mipibu
Francycris – 24 anos – Mossoró
Emilia – 28 anos – Parnamirim
Maria do Socorro – 37 anos – São João do Sabugi
Josefa- 41 anos – São Rafael
Mykaella – 21 anos – Natal
Naiara – 18 anos – Natal
Roberta – 35 anos – Natal

A lista publicada logo acima mostra as vítimas de feminicídio no Rio Grande do Norte no mês de agosto. Em quase duas semanas, essas mulheres foram mortas pelos seus ex-companheiros. Alguns deles foram repercutidos na imprensa, outros viraram um registro do Instituto Técnico-Científico de Polícia (ITEP). Em 2016, mais de 60 mulheres foram vítimas de feminicídio no RN.

O primeiro caso aconteceu no município de Santa Cruz. A socorrista do Serviço Móvel de Atendimento de Urgência (SAMU), Ana D’Avila, foi assassinada por Josinaldo Gomes da Silva, que foi encontrado morto após ter fugido da Polícia. As investigações apontam que a morte aconteceu por Josinaldo não aceitar o término do namoro. No mesmo dia, a dona de casa Josefa Ferreira da Silva foi morta pelo companheiro, no município de São Rafael.

Na capital potiguar, a diarista Mykaella Ruanna Pereira Fagundes, de 21 anos, foi morta no bairro das Rocas com um tiro na cabeça, enquanto saia de uma academia, pois estava esperando um amigo do ex-namorado que iria mandar o dinheiro da pensão do filho. Um carro aproximou da jovem e o rapaz que estava no banco do passageiro atirou.

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Mulheres reunidas contra os assassinatos

A Polícia acredita que o mandante foi o ex-namorado, que é presidiário e tinham terminado o relacionamento há pouco tempo. Juntos, eles tinham um filho de três anos. Em Mossoró, a dona de casa Francicris Silva Fernandes foi esfaqueada pelo companheiro, que chegou a ser levada ao Hospital Regional Tarcísio Maia e chegou a fazer uma cirurgia, mas não resistiu aos ferimentos.

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Fotos: Lara Paiva

Por isso, várias mulheres, na tarde desta quinta-feira (1), se reuniram no cruzamento das avenidas Bernardo Vieira com a Salgado Filho para pedir punições mais rígidas aos homens, conscientizar a população para ajudar a discriminação de gênero e fazer uma vigília em prol das mulheres que foram mortas em agosto.

“Aqui estão diversas organizações sociais do Rio Grande do Norte, hoje, para dialogar com a sociedade potiguar para que casos não se repitam e que o machismo precisa ser exterminado”, explicou Adonyara Azevedo, do grupo Mulheres em Luta.

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Mulheres da periferia, funcionárias públicas, professoras, autônomas, trabalhando em empresas privadas, das escolas ou universidades. Não importava de onde elas vinham, elas estavam reunidas para criticar o ato, no qual todas apontaram que vem da cultura do machismo, onde o homem é o ser humano prioritário e que as mulheres devem o obedecer. Elas pedem punições aos casos, melhorias nas leis de violência contra mulher, pedem aos gestores 1% do Produto Interno Bruto para políticas sociais e mudanças no horário de funcionamento da Delegacia da Mulher, que só funciona de segunda a sexta-feira no horário comercial, sendo que os assassinatos aconteceram durante a madrugada.

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O protesto funcionou da seguinte forma: A cada minuto que o sinal dos cruzamentos fechavam, elas andavam com faixas e cartazes na faixa de pedestre, além de entregar panfletos e adesivos como forma de conscientizar aqueles que estavam circulando na área.

Além disso, várias mulheres utilizaram o microfone para falar dos casos da violência que já presenciaram ou sofreram.  Uma das pessoas que resolveu colocar o bloco na rua foi a ativista Anita Prosperi, que comentou que o machismo não acontece apenas no público jovem, mas desde a infância e até a velhice.

“Moro na Vila de Ponta Negra, na periferia de Natal, e todos os dias aparecem caso de maridos  ou namorados batendo nas companheiras, desde fisicamente até verbalmente. Outras meninas chegam a ser estupradas e sabe o que escuto? Ela estava usando roupa curta, ficou pedindo pelo o aconteceu”, disse.

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Sobre a velhice, Anita lamentou o fato das mulheres idosas serem ignoradas pelo machismo. “Vamos considerar que eu seja uma dona de casa, consegui criar os meus filhos e dediquei a minha vida a eles. Quando os mesmos estiveram na vida adulta, eu deveria ter o direito de fazer o que quiser. Mas isso não acontece, porque não posso, visto que determinam um comportamento ideal para uma idosa. Por que não posso ir ao show? Por que não posso namorar? Como não posso gastar o meu próprio dinheiro?”, questionou.

No Brasil, a taxa de feminicídios é de 4,8 para 100 mil mulheres – a quinta maior no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ampliando para o Nordeste, a taxa sobe de 6 para cada 100 mil, mesmo valor no Rio Grande do Norte, o 16º estado que mais mata mulheres. A

Em 2015, o Mapa da Violência sobre homicídios entre o público feminino revelou que, de 2003 a 2013, o número de assassinatos de mulheres negras cresceu 54%, passando de 1.864 para 2.875.

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Na mesma década, foi registrado um aumento de 190,9% na vitimização de negras, índice que resulta da relação entre as taxas de mortalidade branca e negra. Para o mesmo período, a quantidade anual de homicídios de mulheres brancas caiu 9,8%, saindo de 1.747 em 2003 para 1.576 em 2013.

“Combater o feminicídio é um dever que as mulheres têm que lutar cotidianamente, pois a vida do homem não é mais importante que o da mulher. Somos iguais perante a lei. Eu não quero viver com uma pessoa que vai me violentar de todas as formas”, afirmou a jovem Julia Roquen.

01092016-pela vida das mulheres (12)Do total de feminicídios registrados em 2013, 33,2% dos homicidas eram parceiros ou ex-parceiros das vítimas. Portanto, os quatro casos no RN citados encaixam nesta estatística. Ressaltando que o crime também pode ser provocado por um membro da família.

Em 2015, o Governo Federal criou a Lei do Feminicídio, que alterou o Código Penal brasileiro ao tipificar esse crime. Na nova legislação, a violência doméstica e familiar e o menosprezo ou discriminação à condição de mulher são descritos como elementos de violência de gênero e integram o crime mencionado.

Apesar dos 10 anos da Maria da Penha, constatou-se que não houve redução das taxas anuais de mortalidade entre mulheres, comparando-se os períodos antes e depois da vigência da Lei. As taxas de mortalidade por 100 mil mulheres foram 5,28 no período 2001-2006 (antes) e 5,22 em 2007-2011 (depois). Nos últimos anos, o retorno desses valores aos patamares registrados no início do período. Por isso, durante o ato, muitas mulheres pediram ampliação e melhorias na lei.

Além dos homicídios, muitas mulheres podem sofrer outros tipos de violência, como o abuso sexual (sim, o marido pode estuprar uma esposa) e psicológico, quando desconta raiva e frustrações sob a esposa.

“Quanto mais unidas, melhor e mais fácil para combater a violência contra mulher”, disse Luna Carvalho.

Após o ato, várias mulheres colocaram velas nos nomes das mulheres que foram mortas e fizeram uma ciranda para reivindicar mais ações sociais a favor do gênero feminino.  Veja o álbum de fotos a seguir:

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Sobre lara

Jornalista e publicitária formada pela UFRN, começou despretensiosamente com um blog para treinar seu lado repórter e virou sua vitrine. Além disso, é mestranda em psicologia na UnP e ainda é doida o suficiente para começar mestrado em Estudo da Mídia na UFRN. Saiba mais sobre esta brechadora.

Desenho: @umsamurai.



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