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Moça, você sempre vai ter idade de usar cabelo colorido

Hoje, o meu cabelo é verde. Amanhã não sei. Só sei que gosto destas mudanças, uma forma de externar que o meu mundo não é tão trevoso assim. A minha primeira representação de ter cabelo colorido foi com Penélope, a repórter do Castelo Rá-Tim-Bum, eu queria ter daquele tom. Mas, as propagandas da Velaton,nos anos…

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Hoje, o meu cabelo é verde. Amanhã não sei. Só sei que gosto destas mudanças, uma forma de externar que o meu mundo não é tão trevoso assim. A minha primeira representação de ter cabelo colorido foi com Penélope, a repórter do Castelo Rá-Tim-Bum, eu queria ter daquele tom. Mas, as propagandas da Velaton,nos anos 90, só apresentava tons de vermelho, preto ou loiro. Achava um máximo minha mãe ou tia com as tintas no cabelo. Sempre queria pintar o cabelo, estava cansada daquele castanho escuro quase preto. Adorava ver aqueles roqueiros da MTV com cabelo colorido, apesar de não saber como pintava. Só ouvia frases como: “Eles são loucos ou engraçados”, “Isso é peruca, impossível de fazer” ou “Você não é artista, mulher”.

A infância acabou e a adolescência veio com cheios de questionamentos, a vontade de querer mudar e mostrar o que sinto através da pele e na aparência. Primeiramente, foi com maquiagem, depois os piercings e claro que viria chegar no cabelo. Spray de carnaval e papel crepom não me contentava. Neste período o fotolog bombava, a moda emo e os myspace com os cabelos pintados de vermelho, magenta e rosa. Era uma era pré-Tumblr. Não queria essas cores, queria uma cor diferente, porque tinha síndrome do underground e odiava modinha.

Após juntar alguns meses de mesada, finalmente pintei o cabelo de azul, apesar dos meus pais e o ex-namorado da época dizendo que ia ficar feio. Eu tinha curtido, era uma forma de mostrar a minha personalidade e o que pensava. Enquanto isso, o pessoal da escola tentava de todas as formas fazer bullying, desde jogar papel crepom de azul no meu cabelo ou meninas padrão descobrindo meu MSN (Whatsapp nem existia!) para esculhambar, me chamando de “tosca” ou “rídicula”. Seria hipocrisia dizer que não ficava encabulada pois chorei várias vezes e tinha vontade de desistir. Mas, a voz da consciência dizia que eu devia ser forte e resistir.

No final, nem deu certo, cansei do azul, porque não tinha paciência para manutenção (ninguém conta isso, não é?) e as tintas não duravam nem um mês exatos. Naquela época o preço de uma tinta de cabelo fantasia da Alfaparf era o dobro de um Koleston.

Sem contar que as informações que conseguia coletar era através de comunidades do Orkut.

Foi assim que coloquei a tinta vermelha na parte descolorida e com pontas vermelhas. Porém, eu tinha feito relaxamento para deixar os cabelos ondulados e tinha feito descoloração em poucos meses. Ainda tinha a falta de paciência para manter a cor do cabelo e fazer hidratação, claro que aconteceu um corte químico. O que seria isso? É quando o cabelo é cortado por conta dos cosméticos.

Resultado? Eu tive que cortar o cabelo bem curto.

Penélope, minha primeira inspiração

Após meses de cabelos curtos, comecei a pintar o cabelo de preto, para deixar mais escuro que já era e isso durou até o início da faculdade, quando vi que estava na hora de destacar alguma coisa em mim e tive a ideia de fazer mechas vermelhas.

As pequenas mechas cresceram e após descobrir como faz para pintar o cabelo de vermelho, quando uma amiga falou que colocava água oxigenada de 30 volumes que aumenta três tons do cabelo. E deu certo. Tanto que me formei com um cabelo vermelhão.

Fiquei dois anos deixando o vermelho sair para meu cabelo voltar a cor natural e assim voltei a moda dos cabelos coloridos, ficando aqui meu cabelo de unicórnio

Veja as minhas mudanças capilares nos últimos 10 anos:

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Neste período, eu cresci pessoas dizendo que não tinha idade para pintar o cabelo desta forma (tenho 24 anos), homens não gostam de mulheres que não são naturais e que devo ser doida para deixar meu cabelo como um eterno carnaval. Sem contar que sempre perguntam se os meus pais tinham autorizado de fazer e o que eles opinavam.
A sorte que sempre tive família que tinha liberdade de pensamento, onde mesmo que não concordasse comigo, eles deixariam que tivesse a minha personalidade ou opinião. Algo que muitos jovens da minha idade, mesmo empregados e tendo uma vida de sucesso, eles ainda estão angustiados por viver em padrões estabelecidos na mídia.

Antigamente, os cabelos coloridos eram poucos representados e somente quem acessava mídias alternativas, como as citei acima, podia ver sobre os cuidados no cabelo ou tendências. Agora, a gente pode ver personagens de séries, novelas e digital influencers que estão deixando as suas cabeças mais coloridas e estimulando mais pessoas a abrir o coração. Sem contar que os produtos para esta área cresceram bastante, você pode encontrar numa loja de cosméticos mais perto de sua casa, do que comprar em um site estrangeiro.

Se você quer pintar seu cabelo colorido, não ligue para as opiniões e mergulhe de cabeça neste mundo.

Comentários

3 respostas para “Moça, você sempre vai ter idade de usar cabelo colorido”

  1. Ameiiiiiiiiiiiiii

    A gente nem se conhece e parece muito, desde a inspiração na Penélope <3

    bjooooooooo

  2. Florbela

    Olá, apenas para registrar que partilho desses sentimentos fico animada com sua forma particular de resistência! Parabéns e tudo de bom!

    1. Lara Paiva

      Muito obrigada pelas palavras

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Desenho do ilustrador Um Samurai

Lara Paiva é jornalista e publicitária formada pela UFRN, com especialização em documentário (UFRN) e gestão de mídias sociais e marketing digital (Estácio/Fatern). Criou o Brechando com o objetivo de matar as suas curiosidade e de outras pessoas acerca do cotidiano em que vive. Atualmente, faz mestrado em Estudos da Mídia, pela UFRN e teve experiência em jornalismo online, assessoria de imprensa e agência de publicidade, no setor de gerenciamento de mídias sociais.

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